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Today’s #FlightyFridays will be another presentation I recently gave at the most recent Western Society for French Historical Studies Conference, which took place in a pleasantly charming but dreadfully rainy Portland, ME, from November 1-3, 2018.
I was lucky enough to be part of a panel titled “Border Crossings: Aristocratic Masculinities at the Fin de Siècle,” chaired by Sally Charnow, from Hofstra University. H-France selected our panel to be recorded, and just released it as part of the H-France Salon, Vol. 10 (2018), Issue 14. I now have the pleasure of sharing it with you.
The paper I presented was titled “‘Ce gentlemen rider du turf atmospheric’ [sic]: Ballooning, Aristocratic Masculinity, and the Colonial Imaginary in Turn-of-the-Century France.” It incorporates some new research I’ve been doing that situates ballooning within the context of empire—focusing especially on how it served both as an adventurous practice for aristocrats to negotiate their anxieties concerning France’s crisis of masculinity following the Franco-Prussian War defeat and as a way for the French to imagine how to manage their growing imperial possessions.
Venita Datta (Wellesley College) followed with a paper that compared and contrasted the performances of masculinities in the American West by Theodore Roosevelt and the curious Marquis de Morès. It was then Elizabeth Everton’s (Concordia University) turn, and she told a winding, intriguing, and often hilarious story of a duel that never happened but that still caused the press to go into a frenzy. Catherine Clark (The Massachusetts Institute of Technology) presented a very pertinent comment that addressed how perhaps we should understand masculinity as central to the construction of modernity. The panel closed with some questions and a brief but insightful discussion about how many of the tropes that informed masculinity more than a century ago linger in the present—especially in the form of toxic masculinity. All of the videos are worth checking out.
Chair: Sally Charnow, Hofstra University
“Aristocratic Masculinities on the Global Frontier: The Marquis de Morès and Theodore Roosevelt”
“Dueling at a Distance, 1901: Politics, Honor, Manhood, and Exile in the ‘Affaire Buffet-Déroulède’”
For today’s #FlightyFridays I figured I’d share a broader view of my research. Earlier this year I had the opportunity to present my work at the Linda Hall Library, a wonderful institution in Kansas City for anyone interested in the study of science, technology, and engineering (its “collection encompasses more than half a million monograph volumes and more than 48,000 journal titles”). I was a fellow there for three months, and came across some exciting finds in their Rare Books Collection, some of which are showcased in the presentation.
So, if you’re interested in understanding how the balloon went from being this exciting innovation in the late eighteenth century, to quickly becoming obsolete in the early nineteenth century, only to then be rediscovered as modern as the twentieth century approached, this is just the thing for you!
The video is also available in the Linda Hall Library’s Facebook Page.
Em 27 de janeiro de 1889, Georges Boulanger, um general francês, jantava no Restaurante Durand, na Place de la Madeleine em Paris. Não era um jantar qualquer. Boulanger acabava de ser eleito deputado, massacrando o seu adversário com 224.000 votos contra 160.000. Enquanto ele terminava a sua refeição, cerca 50.000 parisienses se aglomeraram na praça, ansiosos para saber o que o general, cujo o sobrenome quer dizer padeiro, faria com o seu mandato.
Esteticamente, a república parlamentar francesa poderia dar a impressão de estar indo bem. Afinal, os últimos detalhes da Torre Eiffel estavam sendo finalizados, e todos aguardavam com expectativa a Exposição Universal de 1889. Mas a pátina do espetáculo não era o suficiente para cobrir a fragilidade do regime. A república, afinal de contas, havia sido instaurada há menos de vinte anos, e não contava com legitimidade absoluta. Monarquistas (que se dividiam entre os que apoiavam a dinastia Bourbon e os que apoiavam a dinastia Orleãs) e bonapartistas ainda tinham esperança de uma possível restauração de seus respetivos regimes. E muitos dos trabalhadores que inicialmente apoiaram a nova república estavam desiludidos com a letargia do parlamento e com uma série de escândalos de corrupção.
De acordo com alguns relatos, a multidão na Place de la Madeleine instigava Boulanger, o personagem político mais popular na França, a marchar ao Palais de l’Élysée e instaurar uma ditadura militar. A república parlamentar parecia estar pendurada por um fio. Mas Boulanger decidiu terminar o seu jantar e seguir para a casa da sua amante. De acordo com uma anedota contemporânea, um dos arquitetos da curta carreira política do general tirou o relógio do bolso e falou: “Meia-noite e cinco, messieurs. O Boulangismo entrou em declínio tem cinco minutos.”
O comentário foi espirituoso, pois a chance perdida por Boulanger abriu uma oportunidade para os republicanos reprimirem o general e seu movimento. O Ministro do Interior emitiu um mandato de prisão acusando Boulanger de conspiração e traição contra o Estado, e a Câmara dos Deputados revogou sua recém-conquistada imunidade parlamentar. Boulanger exilou-se em Bruxelas, onde ficou até a sua morte melodramática. Em 1891, o general deu um tiro na sua cabeça e caiu morto em cima do túmulo da sua amante.
O movimento que apoiava Boulanger—o Boulangismo—foi um fenômeno inédito na França. Como explica o historiador israelense Zeev Sternhell, ao conciliar sob a égide de um populismo nacionalista algumas políticas socialistas e críticas reacionárias ao regime parlamentar, o Boulangismo foi um dos focos de origem da “direita revolucionária” e do fascismo que ela subsequentemente engendrou.[1] Boulanger e sua base idiossincrática foram talvez a maior ameaça à Terceira República Francesa nos seus 70 anos de existência (o regime finalmente caiu em 1940 com a invasão da Alemanha). Como um fenômeno que surgiu paralelamente com o experimento da democracia em massa, o Boulangismo nos ajuda a entender os riscos às instituições republicanas quando se deparam com uma espécie de “tempestade perfeita” composta de uma crise de legitimidade, uma revolução midiática, e uma figura impregnada de autoridade carismática (em termos Weberianos, onde essa figura adquire o seu poder por ser vista como dotada de habilidades extraordinárias pelos seus seguidores). Em outras palavras, podemos compreender algo do fenômeno Bolsonaro ao analisá-lo sob a ótica de Boulanger.
Indiscutivelmente, a Nova República sofre atualmente a sua maior crise de legitimidade. A crise econômica, os escândalos de corrupção, e a escalada da violência colocou em dúvida na cabeça de muita gente a própria viabilidade da Constituição de 88—como se, para usar a imagem usada por Immanual Kant e popularizada por É o Tchan, “pau que nasce torto nunca se endireita”. Por exemplo, há poucos meses, o comentarista-historiador Marco Antônio Villa declarou que “[a Constituição de 88] deu o que tinha de dar”. O próprio Partido dos Trabalhadores, que nasceu junto com a “Constituição Cidadã”, já vacilou entre reformar alguns de seus elementos e começar do zero com uma nova constituinte, apesar de que Fernando Haddad afirmou recentemente que sua campanha é uma campanha em defesa ao pacto da constituinte de 88. Mais ameaçador é o tom tomado pelo vice de Jair Bolsonaro, o general Hamilton Mourão, que disse sem nenhum receio que a nossa Carta Magna “foi um erro”.
Assim como a Terceira República Francesa, que tinha menos de 20 anos quando o Boulangismo entrou em cena, a nossa Nova República ainda é nova—com apenas 30 anos nas costas. Ambas as repúblicas seguiram regimes autoritários que não encontravam muita resistência no Congresso ou no Judiciário para colocar os seus planos em ação. Além do mais, o cerceamento da liberdade de imprensa nesses regimes anteriores—o Segundo Império de Louis-Napoléon Bonaparte e a Ditadura Militar—mantinha a corrupção debaixo do tapete, algo que ajudou a criar o mito de como os autoritários de antes pelo menos eram honestos (o mito é certamente mais forte no Brasil). Tanto Boulanger quanto Bolsonaro remetem a esse passado imaginado, ainda mais que ambos começaram suas carreiras políticas naquela que é, no imaginário popular, a mais disciplinada e menos corrupta das instituições: as forças armadas.
Essa nostalgia acrítica—o que a crítica literária Svetlana Boym define como “um romance com a sua própria fantasia”[2]—é reforçada pela publicidade dada aos escândalos de corrupção (algo certamente positivo, mas, devemos lembrar, relativamente novo). Na França do final do século XIX, o escândalo que ajudou a impulsionar Boulanger foi a descoberta de que Daniel Wilson, o genro do presidente e um deputado, estava vendendo condecorações da Legião de Honra—a ordem máxima da nação—para qualquer um que pagasse. O presidente, Jules Grévy, foi forçado a renunciar e Wilson perdeu a sua imunidade parlamentar, sendo logo em seguida condenado a dois anos de prisão. Porém, após uma apelação, a pena de Wilson foi revogada, e ele retornou ao parlamento. Enquanto isso, Boulanger foi expulso do exército por fazer campanha política enquanto na ativa. Para muitos franceses as coisas não podiam parecer mais claras—a lei não valia para todos.
No Brasil, o escândalo que abalou as estruturas da Nova República foi, é claro, a Lava Jato. Ironicamente, até o momento o que a operação demonstrou foi que, apesar de alguns problemas aqui ou ali, no geral as instituições republicanas e a separação dos poderes estão funcionando. Afinal de contas, o líder democraticamente eleito mais popular da história moderna encontra-se atrás das grades, respeitando o desenrolar do processo. Mas mesmo assim, o efeito nefasto da Lava Jato for a criminalização da política—consolidando-se de vez a visão de que todos os políticos são corruptos. Bolsonaro, que cultivou a imagem de “outsider”, aparece para muitos como uma exceção, o que também é extremamente irônico, uma vez que o partido do qual ele era membro até recentemente—o Partido Progressista—era o que tinha o maior número de investigados pela Lava Jato. E Bolsonaro está implicado em seus próprios escândalos—desde os estranhos R$ 200.000 que recebeu do PP (que, por sua vez, tinha recebido a mesma quantia de propina da JBS) até a sua infame servidora fantasma. É difícil explicar como que o patrimônio do capitão cresceu 427% em 12 anos, indo de R$ 433.934,48 em 2006 para R$ 2.286.779,48 em 2018. O crescimento do patrimônio do seu filho Eduardo foi ainda mais espetacular—580% em apenas quatro anos.
Mas Bolsonaro posiciona-se habilmente como alguém que é perseguido por outros motivos. De acordo com a imagem construída, ele não é um político como os outros, e por isso tentam derrubá-lo por outras maneiras—os processos por injúria racial e incitação ao crime de estupro. De uma maneira perversa, o estilo truculento do candidato, que abusa da violência verbal, serve como uma distração (vimos algo parecido com Donald Trump). Para muitos de seus seguidores, essas falas não constituem crimes de verdade, e supostamente ele é perseguido por aqueles no poder de uma forma excepcional.
Como mencionado acima, regimes autoritários têm a vantagem de poderem reprimir um jornalismo que lança luzes sobre seus malfeitos. Além do mais, tanto a frágil Terceira República Francesa quanto a nossa Nova República tiveram que lidar com uma nova cultura midiática. Na França do final do século XIX, a novidade era a comunicação em massa em uma escala nunca antes vista. Com as leis de liberalização da imprensa de 1881, jornais populares proliferaram-se como cogumelos, principalmente em centros urbanos como Paris. Para se ter uma ideia, no começo do século XX cada um dos quatro maiores periódicos franceses imprimiam diariamente mais de um milhão de cópias. O conteúdo desses jornais era marcado por inovações—desde um numero maior de ilustrações ao advento da entrevista, ambos os quais contribuíram para a construção de personalidades célebres (como o próprio Boulanger). Além do mais, nos anos após 1881, surgiram um número enorme de periódicos políticos, cada um orientado para uma vertente específica, assim contribuindo para a radicalização na política.
No Brasil atual, temos um outro fenômeno de comunicação—as mídias sociais. A importância delas no cenário político começou a se manifestar nas eleições de 2014. Mas o fenômeno realmente se cristalizou durante a campanha de impeachment contra Dilma Rousseff, com grupos às margens do centro político, como o MBL, criando um insidioso e eficaz conteúdo viral para mobilizar a população. Desde então, as mídias tradicionais, que funcionavam como “gatekeepers” de conteúdo e que, por maiores os seus defeitos, prezavam por ter um mínimo de credibilidade, foram marginalizadas. A campanha presidencial de 2018 foi dominada menos pelos debates na televisão e pelas reportagens das revistas semanais e mais pelos textões do Facebook e pelos memes do WhatsApp. Se antes o brasileiro consumia um certo patamar de informações em comum, agora, mais do que nunca, as coisas são mais segmentadas, com cada um consumindo de acordo com a sua bolha, onde as “fake news” correm soltas. A campanha do Bolsonaro explorou isso primorosamente, evitando se expor demasiadamente nas mídias tradicionais e espalhando um conteúdo de fácil digestão pelas mídias sociais—os infames memes. Vazia de conteúdo, a campanha também se beneficiou da imagem que Bolsonaro vinha construindo nos últimos anos—a do “Mito”.
Nas suas primeiras décadas de existência, a Terceira República Francesa não podia se gabar de um superávit de líderes carismáticos. O seu maior ícone era Léon Gambetta, que de filho de um humilde merceeiro virou advogado e se transformou no líder da oposição ao Segundo Império. Gambetta virou uma celebridade política ainda maior durante a Guerra Franco-Prussiana de 1870-71, quando escapou do sítio imposto à Paris a bordo de um balão para articular uma resistência francesa nas províncias. Depois da guerra, Gambetta foi importante tanto por persuadir figuras radicais a aceitarem uma república moderada quanto por prevenir os reacionários de retomarem o poder. Mas o câncer tomou a sua vida em 1882, quando tinha apenas 44 anos de idade.
Boulanger preencheu esse vácuo. Ele também tinha se mostrado heróico durante a Guerra Franco-Prussiana, e depois comandou as tropas que ocupavam a Tunísia (com a derrota para a Prússia, o projeto colonial francês adquiriu uma importância ainda maior). Indicado para o cargo de Ministro da Guerra em 1886, Boulanger introduziu reformas para agradar os soldados (como, por exemplo, retirar as restrições às barbas). Mais importante ainda, ele aflorou os ânimos revanchistas franceses clamando por uma vingança contra os alemães.
Mas Boulanger nunca desenvolveu um programa político, assim facilitando que franceses de posições políticas antagônicas pudessem projetar nele as suas esperanças. Os seus apoiadores bonapartistas viam nele um militar que poderia restaurar a glória francesa, os monarquistas viam nele alguém que poderia reverter o status quo e abrir o caminho para uma restauração, e os republicanos viam nele alguém que colocaria ordem na política. A imagem do general estampava os periódicos franceses mais do que qualquer outra figura política, e ele era um tópico frequente nas músicas dos cabarés. Apesar de ter sido Ministro Da Guerra, Boulanger era visto como um outsider do “establishment” político. Ele era o canto da sereia para todos aqueles que estavam desencantados com a política.
Vemos em Bolsonaro algo parecido. Ele também entrou na cena política pelo caminho militar. Claro, Bolsonaro nunca chegou nem perto da patente de general, e menos ainda do posto de Ministro da Defesa. Mas o capitão se posicionou como um representante da classe militar, inclusive cometendo “atos de indisciplina e deslealdade” contra a instituição com o objetivo de conquistar benefícios para os seus companheiros. Em sua primeira eleição, foi com essa persona que conquistou os seus votos.
O militarismo também é refletido no discurso de ambos personagens. Mas o revanchismo reflexivo contra os alemães deu lugar ao discurso simplista de combate ao crime. Assim como Boulanger não desenvolveu nenhum plano de como derrotar os alemães, Bolsonaro não tem nenhuma proposta séria para o combate ao crime. Afinal de contas, atirar primeiro para perguntar depois é uma tática selvagem que vai contra os preceitos da Constituição de 88, e não uma estratégia sustentável em um Estado Democrático de Direito.
Outra semelhança: Bolsonaro também é visto como um outsider, apesar de ser político há quase tanto tempo quanto a existência da Nova República. Mas esse rótulo tem um fundo de verdade, pois Bolsonaro se posicionou em Brasília como uma figura inoportuna que nunca acreditou no processo de construção da Nova República. Por isso que ficou conhecido por suas participações no Superpop, no Pânico, e no CQC, onde a sua imagem de “Mito” começou a ser construída (assim como no caso do Boulanger, a mídia é cúmplice na criação do “Mito”). O que ficou evidente no desenrolar da sua carreira política é que Bolsonaro é um político de chavões, e não um legislador. É só dar uma olhada no seu plano de governo, que mais parece uma apresentação de Powerpoint amadora feita por alguma agremiação de ensino médio. Mas os chavões de Bolsonaro ressoam na população brasileira—afinal de contas, ninguém é a favor da violência ou da corrupção.
E já que Bolsonaro nunca desenvolveu uma agenda política própria, ele se transformou, assim como Boulanger, numa espécie de esfinge. Os liberais o apoiam por causa do seu recrutamento de Paulo Guedes, mesmo se historicamente os seus comentários indicam uma visão mais alinhada ao nacional-desenvolvimento dos militares que ele tanto admira. Os conservadores o admiram pelo seu discurso moralista, mesmo ele tendo casado três vezes. Seus apoiadores mais libertários admiram o fato de que ele se posiciona contra o “politicamente correto”, mesmo ele sendo contra outras liberdades básicas. Temos até monarquistas, que o apoiam em grande parte pelo desprezo que o capitão demonstra contra as instituições republicanas. Como Bolsonaro tem apenas dois projetos de lei aprovados, ele navega como um camaleão entre essas diferentes cores políticas.
Finalmente, os chavões transformaram Bolsonaro em uma espécie de “folk hero”. Ele não liga para as normas ou para a cultura institucional do Congresso. Supostamente, ele tem coragem de falar verdades e não aderir ao politicamente correto—uma “coragem”, convenhamos, blindada por sua imunidade parlamentar. Assim como Boulanger, a propaganda política de Bolsonaro não foca no que ele fez ou no que ele vai fazer, mas no que ele representa. É a política da personalidade no seu extremo.
Assim como Boulanger, Bolsonaro representa um possível rompimento com a transição de poder na Nova República. Apesar de diferenças políticas, tanto Fernando Henrique Cardoso, quanto Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff acreditam que a Constituição de 88 representa um avanço na história do Brasil—um momento de superação sobre a Ditadura Militar e a inauguração de uma nova era democrática. Mas Bolsonaro tem outra visão, uma que coloca em cheque as instituições. Afinal, para ele, a “Constituição Cidadã” foi um retrocesso. Bolsonaro, então, seria o primeiro presidente a questionar o alicerce sobre o qual começamos a construir o Brasil contemporâneo.
Se Boulanger representou uma terrível ameaça à Terceira República francesa, Bolsonaro representa a maior ameaça já vista à Nova República brasileira. Os republicanos franceses conseguiram evitar a ascensão de Boulanger, em grande parte por causa das próprias incertezas do general. As coisas são menos promissoras no caso do capitão, que parece estar certo de tudo—em especial daquelas coisas em que ele está mais errado.
Mas independente do que acontecer, é importante lembrar que o Boulangismo também resultou em reformas importantes dentro das outras linhagens políticas. Um dos primeiros fenômenos populistas da história, o Boulangismo cresceu justamente porque ele reconheceu os anseios de uma parte expressiva da população—no caso, uma classe trabalhadora que transitava de uma manufatura artesanal para um processo mais industrial, e que não via os políticos tradicionais oferecerem respostas para essas incertezas. Mas depois que a ameaça apresentada por Boulanger foi superada, os republicanos moderados ficaram mais atentos às demandas da crescente força industrial, e lançaram uma série de projetos de seguridade social que ajudaram a transformar a Terceira República em um dos regimes mais progressistas do começo do século XX.
No contexto brasileiro, a violência representa o cerne da questão. De acordo com dados do IPEA, em 1996 a taxa nacional de homicídios era de 27,80 por 100 mil habitantes, enquanto em 2016 foi de 30,33. Mas, ironicamente, entre 2002 e 2016, ou seja, quando o PT estava no poder no âmbito nacional, a taxa de homicídios caiu quase pela metade na região sudeste (que apoiou Bolsonaro em peso), indo de 34,04 para 19,47. Na cidade do Rio de Janeiro, que nos deu Bolsonaro e que melhor representa o tipo de violência que ele diz combater, a redução da taxa foi maior ainda, indo de 53,48 para 25,82 (a apuração do primeiro turno indica que ele recebeu 58,29% dos votos na cidade). Ironicamente, o capitão recebeu uma maior proporção dos votos nas regiões onde, comparativamente, o problema da violência é menor. Afinal, a única região onde Bolsonaro não ficou na frente no primeiro turno foi o nordeste, onde a taxa de homicídios explodiu de 18,15 em 1996 para 43,68 em 2016.
Essas incongruências demonstram que a maneira como a violência é percebida é tão importante quanto a sua realidade, pois ela está no centro do imaginário coletivo mesmo nos lugares onde ela caiu. Esse fenômeno pode ser explicado, em parte, pelo que a antropóloga Teresa Caldeira intitulou de “fala do crime”. Como ela explica no seu livro Cidade de muros: Crime, segregação e cidadania em São Paulo, “[a]s narrativas cotidianas, comentários, conversas e até mesmo brincadeiras e piadas que têm o crime como tema contrapõem-se ao medo e à experiência de ser uma vítima do crime e, ao mesmo tempo, fazem o medo proliferar”.[3] O Bolsonaro soube acessar esse imaginário, e construiu a sua imagem em cima disso. Os outros partidos têm que tomar isso em consideração e desenvolver propostas que coloquem a segurança pública no centro de seus diferentes projetos de nação sem usurpar os direitos humanos básicos previstos pela Constituição de 88.
Tanto o Boulangismo quanto o fenômeno Bolsonaro são sintomáticos de tensões entre a democracia em massa e um regime republicano—tensões inerentes que afloram em conjunturas peculiares. Não existe um caminho predeterminado quando isso acontece—as únicas coisas certas na história são os imprevistos e as eventualidades. Mesmo se o Boulangismo mudou a política francesa, a ameaça representada pelo movimento começou a dissipar naquela providencial noite de janeiro de 1889, desaparecendo de vez junto com o suicídio patético de sua figura de proa. Resta saber o que acontecerá com o nosso padeiro menos melodramático, e com o movimento que ele atualmente encarna. Afinal de contas, como diz o aforismo apócrifo: a história pode até rimar, mas ela não se repete.
[1] Zeev Sternhell, La droite révolutionnaire, 1885-1914 (Paris: Fayard, 2000).
[2] Svetlana Boym, The Future of Nostalgia (New York: Basic Books, 2001).
[3] Teresa Pires do Rio Caldeira, Cidade de muros: Crime, segregação e cidadania em São Paulo, tradução Frank de Oliveira e Henrique Monteiro (São Paulo: EDUSP e Editora 34, 2000).
Charles Lindbergh's 1927 flight aboard the Spirit of St. Louis from Long Island to Paris stands as one of the most celebrated events in the history of flight. Historians have tackled it extensively, including a wonderful study by Thomas Kessner, The Flight of the Century: Charles Lindbergh and the Rise of American Aviation (New York: Oxford University Press, 2010), which addresses the epic flight itself and offers a cultural portrait of the era that created "Lucky Lindy's" celebrity.
But it can be easy sometimes to lose sight of how momentous certain events in history were to those who experienced them. Lindbergh's flight represented more than just a triumph of human ingenuity; it united France and the United States—the "Sister Republics"—in a much-needed moment of cosmopolitan celebration less than a decade after the carnage in Europe. The flight itself was a way to bolster Franco-American relations. It also acknowledged the central role France (and particularly Paris) played in aeronautical culture at the time.
While working in the Archives de la Préfecture de Police de Paris (Paris's police archives), I came across a source that vividly illustrates the exhilarating moments leading up to Lindbergh's arrival at Le Bourget. The two-page document is a report from the Director of Police to the Prefect two days after Lindbergh’s arrival describing the escalating need for police presence as crowds waiting for him to land grew bigger and bigger. It is evidence of just how unprepared the police were for such craziness. Aesthetically, it is not a very attractive document (although I do find the summary statements on the left amusing in their simplicity given the circumstances).
As you can read in the transcription I offer below the images of the report, authorities severely underestimated the crowds who would come to greet Lindbergh. At first, 130 guards and officers were dispatched after the Le Bourget administration requested help—by the end of the day, all of Paris's available police force had been assigned to control the crowds and traffic associated with Lindbergh's arrival. Luckily, only about a dozen people seemed to have gotten injured during the commotion, including seven people who hurt themselves after the veranda they scaled at Le Bourget collapsed. As Xavier Guichard, the Director of the Police, put it, "we have never seen a crowd gather this fast before and whose enthusiasm knew no bounds."
POLICE PREFECTURE Municipal Police Directorship
NOTE ON LENDBERG'S [sic] ARRIVAL
23 May 1927
From the Director of the Municipal Police to Monsieur the Prefect of Police
The Le Bourget aviation camp responds in part to military authority and, in part, to civil management.
Policing presence requested by Le Bourget:
Police presence doubled by the Municipal Police:
[Police presence] quadrupled upon of arrival:
All available men employed:
Injured:
On the military side, policing is usually provided by military authority itself — on the other side, policing is only provided upon request by civil management and within the limits it sets, since in that case we find ourselves within a facility in which entry is only allowed upon request.
On Saturday, the 21, Le Bourget’s civilian management requested a police presence of 100 men for the evening in anticipation of the public that might come wait for the aviator LINDBERGH.
The public was only allowed in with tickets issued issued by the management.
The municipal police sent 130 guards and officers.
At about 7 pm, fearing that too many tickets had been issued and considering that Lindbergh’s arrival might happen during the night, the Municipal Police was compelled to send another 60 men without having been requested. With that, the service reached about 200 men.
Once Lindbergh was reported to have reached France, a very important police presence was established on the road in order to control traffic. Yet the number of cars that had made their way to Le Bourget made any amount of police presence insufficient; it was an incessant flow of bumper-to-bumper cars clogging traffic, none of them wanting to go beyond Le Bourget and those arriving preventing others from passing. Thus, we should have anticipated an alternative route for official cars rather than the usual one on which they circulated.
In the evening, as soon as the arrival at Le Bourget was confirmed, police presence was increased by a new dispatch of 210 men, including 100 foot guards and 110 guards and officers plus 15 infantrymen from the 34th Aviation Division, made available by the officer-in-charge.
Not all of these units were employed at the interior of the Le Bourget field. Many were employed outside to prevent the public from entering, the Chief of Police having judged it necessary to close the doors because of the large number of guests who came and whose presence in the grounds was now becoming dangerous.
A stronger police presence would only have been possible if it had been requested earlier in advance, seeing that all peacekeepers available in Paris were deployed either to Le Bourget, the road, the Porte de La Villette where, without them, traffic would have become impossible, and, finally, in Paris, in particular in front of the “Matin” and the Place de l’Opéra where the electrified advertisements had drawn a large crowd.
At around 10 pm, 700 men were engaged at these various policing services.
It must be recognized that we have never seen a crowd gather this fast before and whose enthusiasm knew no bounds.
In a case like this, the institution concerned, in this case Le Bourget, would need to request in advance forces appropriate to the circumstances and that would, moreover, require support from the troops.
What seems to have especially moved public opinion is the news of 10 injured taken to the hospital. Furthermore, a rumor spread this afternoon that one of these injured had died and that another was in a coma.
No injuries were reported to the police but, upon inspection, 7 people were treated at the ambulance inside Le Bourget. Of these 7 people, three were taken to the St. Louis Hospital; one left the hospital the same night and two are still in treatment: one for a wrist wound and the the other for a fractured leg. These spectateurs had foolishly scaled onto a veranda that broke under their weight.
None of the patients’ lives are at risk.
The Director of the Municipal Police
[Xavier] GUICHARD
The initial mass enthusiasm for balloons following their invention in 1783 soon gave way to ironic skepticism. After all, critics said, what was the point of rising up into the air if you had no control over the apparatus?
As such, balloons became powerful images for satires. Not only did their mechanics offer moralizing lessons ("what goes up must come down," for instance), but the technology itself started to be associated with swindlers and hustlers who would advertise a magnificent ascent that would then barely lift off—frustrating paying spectators who would sometimes break out in riots. England, in particular, was much more skeptical of the balloon than France, and its thriving industry of satirical prints did not lose a beat.
Titled "The Political Balloon; or, The Fall of the East India Stock," this print came out in late 1783 (just a few months after the balloon's invention). In 1783, the East India Company (a British joint-stock company founded in 1600 to trade in the East), was scarred by corruption scandals and in dire financial straits. That same year, Charles James Fox (a Whig politician and opponent of King George III) introduced a bill to bring the East India Company (EIC) under more direct supervision of the Parliament. The bill passed in the Commons, but due to pressure from King George III, it failed to get through the House of Lords.
"The Political Balloon" depicts Fox sitting on top of a balloon in the shape of the Earth, with the Indian Ocean facing the observer (one can also see the labels "Madras" and "Gold Mines"). Holding a "Bill to Reform India Affairs," Fox glibly states:
"Thanks to my Auspicious Stars, for now I see the Gold & Silver mines before me; 'tis this I am Soaring for."
Below the East India balloon we see three men falling as coins pour out of their pockets. The one one the left seems to represent an EIC director, the one in the middle Warren Hastings (the Governor-General of Bengal), and the one on the right an EIC shareholder. From left to right, their speech bubbles read:
"If the Nation knew his Treacherous heart as well as me, the directors woud be continued."
"What my Governorship gone 'ere I had made or unmade one Nabob? Oh perdition Seize that wiley Fox."
"Must I forever be hurl'd from such pretty pickings? wou'd I cou'd grapple in my fall the author of it."
The satire thus uses the image of an ascending balloon to attack both Fox and those he was challenging within the EIC, more than implying that all of them were engaged in a speculative battle over the company for personal profits.
The scenario would have likely prompted an informed observer to think of the South Sea Bubble. Established in 1711 as a joint-stock company like the EIC, the South Sea Company was granted a monopoly over trade in South America in return for underwriting the British debt that had grown significantly because of a series of wars. Because of Iberian control of South America, the South Sea Company's trade in the region was mediocre at best, but to inflate stocks its directors spread rumors of riches struck by the company in the region. In January 1720, South Sea Company stock stood at £128. As the joint-stock company and government debt became more and more intertwined, and as the rumors of riches in the South Atlantic proliferated, the stock surged, reaching £1,050 by the end of June. But in July investors started to dump the stock, leading to a massive sell-off. The bubble had burst, and by September, the company's stock price stood at a mere £175. It was a financial event with global repercussions, not unlike the subprime mortgage crisis that shook the global economy a few years ago.
As mentioned, because of how the balloon worked (it had to be inflated to ascend, but as it lost gas would have to fall back to the ground), and because there were also many instances of profiteers trying to make a quick buck through balloon ascents, the technology became an especially apt metaphor to satirize financial speculation schemes. "The Political Balloon; or, The Fall of the East India Stock" was just one of many satires that came out in the late eighteenth century doing just that.
Henri Lachambre was perhaps the most reputable balloon manufacturer at turn of the century. From his atelier in Vaugirard (a neighborhood in the outskirts of nineteenth-century Paris) he built balloons for individuals and governments all over the world. Among his customers were the United States Army Signal Corps, the Swede S.A. André (who perished in an ill-fated balloon expedition to the North Pole in 1897), and the Brazilian aeronaut Alberto Santos-Dumont (discussed in the previous #FlightyFridays).
Like most people involved in the business of aeronautics at the time, Lachambre was a passeur who shifted between the worlds of "serious science" and of "frivolous amusement"—something expressed in the whimsical cover to his sales catalog. At the center, donning Lacahmbre's name, we have a standard balloon that scientific-minded aeronauts used to explore the upper reaches of the atmosphere and wealthy Aéro-Club de France members used to make their fashionable ascents. Surrounding that balloon are numerous humorous balloons in the shape of elephants, jockeys, pierrots, devils, and more—the kind of stuff we might see at at the Thanksgiving Macy's Parade, but smaller. In short, whether you were a wealthy aristocrat looking for a new sport, an aspiring man of science with a sense for adventure, or someone wanting to add some spice to your local quartier party, you could find something in Lachambre's catalog.
This Friday, prompted by Alberto Santos-Dumont's birthday, I decided to start sharing some of my research on Twitter through a new feature: #FlightyFridays. The gist is that I'd offer readers some interesting images with some short commentary to contextualize what they're seeing. I've decided to also expand #FlightyFridays into a blog, which I hope will serve as a more permanent record. Remember, if you'd like to see a larger version of the image, just click on it!
Alberto Santos-Dumont was born on July 20, 1873, in Brazil. Although most Brazilians would disagree, Santos-Dumont did not invent the airplane. Nor was he the first to fly one. Where Santos-Dumont did excel was in lighter-than-air flight. His Parisian ascents aboard balloons and dirigibles were critical in popularizing the idea of a world permeated by flight in a time where people were still very skeptical of its possibility.
"Le petit Santos," as Parisians affectionately called him, skillfully worked with the press to become the first global aeronaut celebrity. Huge crowds gathered to watch his flights, and the mass illustrated, which was just coming to its own, eagerly depicted these events on its pages. The cover of the sports periodical La Vie au grand air shows a crowd gathering around Santos-Dumont after he landed on of his dirigibles in Longchamp.
Santos-Dumont's fame was such that during a 1901 toy contest, the most popular toys were based on his dirigibles. La Vie au grand air provided its readers with a photo of the numerous toys at display in the 1901 Concours Lepine's "Santos-Dumont corner."
Santos-Dumont's aircrafts and image also stamped all types of advertisements, like this Will’s Cigarettes trading card, which I snagged at a marché aux puces in Paris. As such, the commodification of Santos-Dumont anticipated Lindbergh Fever by a couple of decades, and set the tone for the ways in which aviators would be made into celebrities in the following years.
Santos-Dumont's fame reached its peak in late 1901, when he won the Deutsch Prize offered to the first person to take off from the Aéro-Club de France's park in Saint-Cloud, circle around the Eiffel Tower, and return within a strict time limit. There was controversy as to whether he succeeded, but popular pressure forced the Aéro-Club to grant him the prize. The feat not only made Santos-Dumont "the hero of the hour," it also helped solidify Paris's status as the global capital of aeronautics. After all, the event also made the connection between aviation and the Eiffel Tower real (it is worth noting that the tower had been pitched as a kind of aeronautical laboratory when it was proposed in the late 1880s). Photos of Santos-Dumont going around the Eiffel Tower circulated the world, and one was even used by Eiffel in a book he published to defend the tower’s utility
In short, the way the press covered Santos-Dumont's feats helped crystalize Paris's global image as a spectacular center of technological cosmopolitanism—as the "capital of modernity." This illustration from the New York Herald, a newspaper that followed Santos-Dumont closely and helped spread his fame in the United States and amongst elites in Europe, conveys this in a wonderful fashion.